Força tarefa de professores da Computação da UFSC, desenvolvedores voluntários e um grupo europeu, na corrida contra o coronavírus

24/03/2020 18:07

Para colaborar com o esforço contra a epidemia do coronavírus, um grupo de desenvolvedores voluntários de Santa Catarina coordenado pelos professores Jônata Tyska e Vania Bogorny, em conjunto com um grupo europeu liderado pelo italiano Luca Mastrostefano, está desenvolvendo um aplicativo para celular que permite detectar e notificar pessoas de forma completamente anônima caso tenham tido contato próximo (<2m) com casos suspeitos ou confirmados de coronavírus.

Privacidade e Funcionamento

O objetivo é a criação de um aplicativo para notificação de possíveis contágios, tendo como prioridade a garantia da preservação da privacidade dos usuários do aplicativo. Este grupo acredita que o desenvolvimento de tecnologias que invadam a privacidade dos indivíduos não serão utilizadas por parte considerável da população, frustrando tais iniciativas. A solução em desenvolvimento pelo grupo é composta por um aplicativo móvel, com dois tipos de usuários, população em geral e profissionais de saúde, e uma aplicação web para gestores. O aplicativo móvel irá coletar os encontros físicos entre pessoas, através de identificadores anônimos, usando a tecnologia bluetooth dos telefones celulares. Bluetooth é uma tecnologia que detecta outros dispositivos próximos sem armazenar a localização física (geográfica) de cada indivíduo, ou qualquer informação que identifique pessoas. Serão armazenados apenas os encontros entre bluetooths, a data, a distância, e a duração deles. Profissionais de saúde marcam usuários como casos confirmados ou suspeitos, através da leitura do identificador anônimo diretamente do telefone do paciente. A partir disso, todas as pessoas que tiveram contato com este paciente nos últimos 14 dias (período de incubação da doença) recebem uma notificação através do aplicativo proposto, com mensagem definida pelos gestores de saúde, infectologistas e especialistas da área.

Por que essa solução faz a diferença?

Por um lado, porque não rastreia a localização espacial dos usuários. Outros aplicativos desenvolvidos pelo MIT e países como Koreia, Israel, Singapura, etc, utilizam a trajetória ou número do celular do usuário, invadindo assim a privacidade dos indivíduos.

Por outro lado, porque permite uma quarentena mais inteligente. Pode recomendar a quarentena ou isolamento apenas para um grupo de pessoas e não toda a população. Profissionais da saúde poderão alertar pessoas que entraram em contato com infectados e informar as autoridades sanitárias sobre o nível de isolamento em relação às medidas adotadas.

A solução será ainda muito útil depois do pico da epidemia, quando as pessoas começarem a sair do atual isolamento, evitando ou minimizando uma segunda onda de contaminação.

Por que não utilizar o GPS dos dispositivos e rastrear usuários?

A solução proposta não utiliza o GPS por diversas razões: (i) GPS não funciona bem em locais fechados como shoppings, edifícios, etc (ii) não possui a precisão necessária para a detecção de encontros, (iii) gera um grande volume de dados (big data) inviável de ser processado em tempo real, portanto não é escalável e nenhum computador comportaria o processamento ágil dos dados em caso de uso por grande parte da população, e (iv) invade a privacidade dos usuários, que se sentiriam vigiados. O grupo enfatiza que a discussão acerca do respeito da privacidade dos usuários vai muito além da discussão ética e de garantia de direitos individuais, algo que também acreditam ser fundamentais. A única forma deste tipo de solução produzir resultados satisfatórios está na adoção global por parte do maior número de pessoas possível. Assim, soluções que invadam a privacidade dos usuários, os rastreiem e identifiquem, terão sua adesão seriamente comprometida, tornando a solução ineficaz e incompleta.

Outras funcionalidades

Além de detectar de forma anônima o contato com usuários suspeitos e infectados, cada cidadão poderá informar pelo aplicativo sua idade e doenças preexistentes, e também reportar a presença de sintomas. Na área gerencial, os gestores de saúde definirão as regras de quais, e quando, notificações devem ser enviadas aos usuários. Tais regras serão baseadas na quantidade e duração de encontros com casos confirmados ou suspeitos, no perfil de risco de cada usuário e na existência de sintomas. Pela interface gerencial, será também possível consultar relatórios com estatísticas sumarizadas, sem a identificação de usuários, mas que informem aos gestores o andamento da quarentena através do percentual de contatos ocorridos entre as pessoas.

site do projeto: www.inf.ufsc.br/~vania/coronavirus